terça-feira, 29 de novembro de 2016

Crescer com as memórias...

“Éramos muito felizes.”
“Havia dificuldades mas tínhamos de tudo.”
“Já naquela altura tinha  17 camisas.”
“Conseguia nadar o rio dum lado ao outro.”
Cresci com estas frases vezes sem conta, mas nunca me cansei das ouvir. Eram histórias de encantar mas na versão vida real. Como era muito pequena acabei por nunca entender muito bem os parentescos dos nomes que eram pronunciados. A maior parte das personagens não as conheci, e outras tantas nem sei se eram da família. Chego ao ponto de baralhar os familiares da parte da avó e os da parte do avô. Não me recordo se houve alguma vez alguma história de como se conheceram, já que tenho a sensação que nunca viveram na mesma terra. As cunhadas tratavam-se por irmãs e apesar do mau feitio de alguma, o bom da outra acabava por compensar.
Eram outro tempos...outros valores...
Sofria-se muito. Tinham fome...tinham frio...tinham medo....eram felizes!!!
Tremiam cada vez que o pai chegava a casa, mas dançavam ao som da gaita de beiços e faziam verdadeiros bailaricos na enorme cozinha.
Cozinha com tantas memórias...com tantos cheiros. Acabou também por ser a minha cozinha.  Que saudades da braseira debaixo da camilha. Que saudades das batatas doces do fogão a lenha. Que saudades de ter o meu primo mesmo ali ao lado sempre pronto para brincar à pontaria dos berlindes nos soldados. E o Homem invisível??? Essa era uma partida da tontinha da minha irmã...mas que felizmente nunca mais me esqueci!!!
Esta Sra que tinha 17 camisas e que sofreu algumas dores na sua longa vida...acaba por ser o elo de ligação destas memórias. Lembro-me de baloiçar na perna dela enquanto passava a ferro...e acreditem que já não era uma mulher nova...mas o amor da avó deixava-nos abusar do seu corpo muitas vezes maltratado.
Lembro-me da casa sempre cheia e do cheiro do café acabado de fazer enquanto assentava. Lembro-me de querer sempre a fatia do meio do pão...apesar de gostar mais do pão da tia!! Os Mondongos (*1) cheios de açúcar...
Os bolinhos dos Santinhos nos casais na casa da Tia que fazia anos...e o cheiro a fumo da Tia da Tapada.
Ainda havia os tios do rancho!!! Era tão giro aquelas danças animadas que o meu pai tanto detestava. Para o meu pai era sinónimo de barulho que não o deixava descansar depois do dia de trabalho. Para mim era o momento do dia em que íamos espreitar por um buraquinho as danças que queríamos dançar.

Era a casa da avó que era a minha casa. Foi onde construí as minhas melhores memórias. Foi onde me conheci como gente....a partir daí foi só crescer.

 
*(1) - Pastel de farinha e ovo frito


4 comentários:

  1. e o atravessar da Ponte a pé para ir a casa da avó ao Domingo. E as férias grandes com as primas. E as noites de natal a escuta para saber quais as prendas que nos calhavam quase sempre enxoval. Saudades......

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  2. Velhos e bons tempos! O que gostava mesmo era quando havia as cheias e o pessoal abancava todo lá em casa... era o máximo para nós crianças!!

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    1. Era festa todos os dias!!! E quando não havia cheia os jogos da bandeira no largo todo...e as festas das fogueiras...

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