Agora que está o fogo apagado e as pessoas tentam voltar às suas rotinas, já posso falar das minhas memórias de Pedrogão.
Demorávamos umas belas horas a lá chegar. Tinha por lá um par de tias, um tio e um primo. Lembro-me das ruas de pedra e de todos irem à missa. Tinha uma certa dificuldade em saber se aqueles familiares eram da parte do avô ou da avó. Ouvi uma das tias dizer que era irmã do avô, mas depois tratava a minha avó por mana!!!
Estava quase sempre a chover e as pedras da calçada eram escorregadias.
Sempre que lá íamos havia um grande almoço, já não me lembro o que comíamos, só que uma das tias corria freneticamente para estar tudo pronto às horas certas. A outra tia, mais pequena de estatura era mais parada, e vivia sozinha. Diziam que tinha tido um filho e um marido, mas nunca os conheci. O Tio e o primo conviviam contentes à mesa connosco naqueles dias em que os visitávamos.
Lembro-me de um dia em que me vestiram um fato de anjo e me puseram num desfile na rua. Eu deixei, mas nunca percebi bem porque o fizeram. Na minha terra havia festas e eu nunca quis participar, imaginem a minha cara de contentamento por aqueles ruas empedradas de Pedrogão. Eu gostava de lá ir e ainda me lembro da casa da Tia Marquitas onde tudo parecia intocável.
Hoje, já não temos as tias, mas os tios continuam na mesma casa. A tragédia não chegou à casa deles, mas chegou-lhes às terras e ao coração. Um abraço a eles...e a todos os que de alguma maneira sofreram com este trágico incêndio.
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